13.5.17

cadáver exquisito


A língua é só um detalhe. A língua não é 
uma víscera. A língua é um músculo, cuja ausência 
de ossos permite modular sons complexos 
que, por acaso, podem também fazer cócegas no ar. 
Mesmo que eu me tornasse estrangeira
minha língua nunca seria estrangeira. A carne 
epiléptica nasce onde tem que nascer.

Só depois da língua é que vem o coração, a dobra-
dinha, a moela, as entranhas 
do porco, do bode, do touro e da galinha
que não podem falar. Eu falo porco, bode, touro 
e galinha. Eu falo, sim, ao porco, ao bode, ao touro 
e à galinha. Eu falo minha comida, meus amigos
mas é com as mãos que como, com as mãos 
que toco, abro, entro e não levo as mãos à boca 
que pergunta como não manchar o traje. 

Cólera. Pássaro negro. Civilizações inteiras. 
Formas áureas. Flor de Lótus. Luz que cega 
e morre. Antares! É no erro que mora 
a diabólica mãe da beleza, por isso é tão difícil 
morar na beleza de um penhasco. 

Todo gênio se considera uma fraude 
ou não. Toda fraude é genial. 
Chupo os ossos da dúvida. As hienas riem. 
Jamais sentirei fome novamente.

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